O Papa Francisco insiste por uma “Igreja em saída missionária”, termo usado na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a Alegria do Evangelho (EG,17). O Papa aposta na missionariedade da Igreja, de modo que “hoje todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária” (EG 20), capaz de chegar a todos, indistintamente, com a missão de testemunhar no mundo o amor salvífico do Senhor, sem medo de enfrentar os cenários e os desafios próprios de cada tempo. A missão é uma questão vital para a Igreja, faz parte da sua natureza: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mateus 28,19-20). Para o Pontífice, evangelizar é “ter a disposição de levar aos outros o amor de Jesus; e isso sucede espontaneamente em qualquer lugar: na rua, na praça, no trabalho, num caminho” (EG 127). A Igreja deve tornar-se casa aberta para todos, “deve ser lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viver segundo a vida boa do Evangelho” (EG 114). No entanto, como tornar-se casa aberta, lugar da acolhida se com a chegada da pandemia do coronavírus, com as medias de isolamento social, suas portas foram fechadas? A Igreja, chamada a sair, com o isolamento social, viu-se dizendo: “fique em casa”.
O isolamento social muda a maneira de evangelizar?
A pandemia, o isolamento social não mudam o chamado do Senhor para anunciar o Evangelho. O avanço da Covid-19 mudou o contexto em que estávamos vivendo, mas não a missionariedade da Igreja. Continuamos ‘batizados e enviados’ a evangelizar. O Espírito Santo continua agindo em cada um de nós. A “Igreja em saída” deve atualizar, pela ação do Espírito Santo, o seu modo de evangelizar. O cristianismo não dispõe de um único modelo de evangelização. A Igreja sempre, à luz do Espírito de Deus, encontrou formas de levar a Boa Nova do Evangelho até os “confins do mundo”. Subir aos telhados para anunciar a Boa Nova (Mt 10,27) pode ser interpretado de vários modos, ou seja, é preciso encontrar meios para que o Evangelho seja proclamado a todos os povos.
A Igreja tem “o desafio de responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus” (EG, 89).
Neste contexto de isolamento, torna-se ainda mais necessário o entendimento de Igreja “Povo de Deus”, “Igreja doméstica”, “Comunidade de batizados”. A Igreja não está com as portas fechadas, mas ao contrário, mais portas foram abertas, cada vez mais as famílias experimentam o que significa “Igreja doméstica”.
O que podemos fazer?
Já estamos há mais de um ano, desde o início do isolamento social, com restrições maiores ou menores, neste desafio de evangelizar com nossas igrejas parcialmente fechadas. Neste tempo, muitas paróquias, comunidades eclesiais, grupos religiosos, congregações religiosas, pastorais e mesmo pessoas isoladas já tomaram várias inciativas, tradicionais ou criando novos métodos, com o desejo de dar continuidade ao projeto de evangelização. Cito aqui algumas mais utilizadas: missas tradicionalmente transmitidas pelos rádios, pelas redes de TV ou via Faceboock, Youtube, Instagram; Rosário (terço) de Nossa Senhora e agora com outras devoções: terço de São José, da Misericórdia; grupos de oração; reflexões diárias ou semanais das leituras bíblicas da liturgia; estudos bíblicos; reflexões de temas teológicos, morais, litúrgicos, sobre família; direção espiritual; bênçãos; novenas; lives com palestras, músicas religiosas; campanhas de solidariedade etc. São formas importantes e urgentes para que a evangelização e a ajuda aos necessitados não parem. Neste tempo, excepcionalmente, nossas igrejas estão fechadas para as celebrações, mas a evangelização não parou.
Acompanhei muitas iniciativas de evangelização por meio de missas; campanhas de conscientização sobre o coronavírus nas áreas rurais, entre os mais vulneráveis do país; profissionais da saúde que se disponibilizaram nas paróquias para ajudar na missão de conscientização sobre o coronavírus; grupos de leigos, religiosos, religiosas e sacerdotes que fizeram podcasts radiofônicos diários de oração e reflexão com base nas leituras do dia; grupos de WhatsApp para divulgar e receber mensagens, orações, reflexões de cunho religioso motivacional. São iniciativas para que a Igreja esteja mais próxima das pessoas.
Neste momento de desafio imposto pela pandemia, nossa presença cristã deverá ser de confiança e esperança que o próprio Deus suscita em nós. O cristão não pode ser profeta do medo ou do desespero, mas da esperança alegre que brota da presença de Deus em nós. É dever do cristão iluminar corações e mentes com a Boa Notícia da Salvação para que todos possam compreender que a esperança humana, os anseios mais profundos do homem realizam-se de modo definitivo na Esperança cristã (cf. Gaudium et Spes, 92). O cristão tem que ter a consciência de que suscitar esperança nas pessoas é sempre importante em qualquer tempo e lugar, sobretudo nas atuais circunstâncias de pandemia do coronavírus, é urgente e necessário.
O que fazer depende muito das condições e estruturas de cada pessoa, comunidade e paróquia. O importante não é simplesmente fechar as portas, justificando-se nos protocolos dos governos, e cruzar os braços. Também é importante perceber a realidade de cada povo, disponibilidade de acesso à internet, às páginas sociais, necessidades econômicas, psicológicas etc. Importante conciliar o pão da Palavra, da Oração e o pão nosso de cada dia. O povo está carente da Palavra de Deus, de uma prece, mas também de ajuda material, são muitos os desempregados, os que passam fome, e não podemos nos esquecer daqueles que passam por crises existencial, de ansiedade, depressão. Aqui vale a lembrança das pessoas idosas, das enfermas, daquelas que passam o dia sozinhas em suas casas e no seu leito de dor.
Deus faz tudo novo
Além de tudo o que já estamos criando, aprendendo e fazendo neste tempo de isolamento social, apresento aqui algumas sugestões: explorar as redes sociais, ampliar a criatividade na evangelização; criar o serviço de aconselhamento virtual para atendimento individual de quem busca orientação, aconselhamento e oração. Vigília de oração em casa, ou seja, formar grupos de oração contínua, onde cada pessoa assume um horário de oração em sua casa. Realizar as reuniões pastorais on-line ou aproveitar o momento para cursos de formação para os agentes de pastorais. Fazer ligações missionárias, isto é, colocar pessoas previamente preparadas em contato via telefone, aplicativos de celular, com aqueles que desejarem, e assim partilhar a Palavra de Deus, rezar juntas. Curso on-line devocional (ex: Conhecendo o nosso padroeiro). Cuidar do dízimo da paróquia, implantação do sistema digital de contribuição. Tentar identificar pessoas idosas ou enfermas que estão sozinhas e encontrar um meio de entrar em contato via telefone ou através da janela, oferecendo ajuda, sempre mantendo os devidos cuidados. Lives oracionais, lectio divina. Formar grupos de estudo on-line para conhecer melhor o Catecismo da Igreja. Ampliar a ajuda aos pobres da comunidade etc.
Entendo que não tenho a melhor ou a mais eficiente resposta para a pergunta, mas me sinto em comunhão com as comunidades eclesiais para apresentar estas sugestões. Para alguns posso estar “chovendo no molhado”, enquanto para outros posso dar uma luz à criatividade. Com tudo isso, trago uma certeza, é o Espírito Santo que vai fazer “novas todas as coisas” (Ap 21,5). Deus, que faz tudo novo, inspira também novos recursos para ir ao encontro dos seus filhos e filhas.
fonte:https://formacao.cancaonova.com/igreja/catequese/como-evangelizar-em-isolamento-social/?fbclid=IwAR0HO1Y92gE2XhnoNrQV_b55UQ3apa-CWXRfu5iHKSj0m5HK41IBl1qbffo
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